Polineuropatia amiloidótica familiar: a amiloidose ou doença de Corino

A Amiloidose é uma condição geneticamente determinada, do grupo das doenças neurológicas de acometimento tardio. Este grupo engloba a área de atuação denominada neurogenética. Inclui-se também: as ataxias hereditárias, as paraparesias espásticas e a doença de Huntington.

A amiloidose é uma condição que afeta múltiplos sistemas. Ocorre progressivo e lento acúmulo de depósitos anormais de uma proteína chamada amiloide nos órgãos e tecidos do corpo, por isso o termo amiloidose.

O depósito da proteína amiloide ocorre mais frequentemente no sistema nervoso periférico. O sistema este formado por nervos que conectam o cérebro e a medula espinhal a músculos e células sensoriais que detectam sensações como toque, dor, calor e som.

O acumulo de amiloide nesses nervos resultam em perda de sensibilidade nas extremidades, por isto a neuropatia periférica. A polineuropatia amiloidótica familiar (PAF) faz com que ocorra um descontrole do sistema nervoso autônomo. Este controla as funções involuntárias do corpo: pressão arterial, frequência cardíaca e digestão.

Em alguns casos, o próprio sistema nervoso central pode estar afetado. Como condição envolvendo diversos sistemas, a amiloidose pode afetar: coração, rins, olhos e trato gastrointestinal.

A amiloidose é causada por mutação do gene da transtirretina (TTR). A principal mutação é a Val30Met, em que na posição 30 da proteína da transtirretina ocorre uma mudança do aminoácido valina por uma metionina. Esta é uma das poucas doenças genéticas que possuem tratamento específico.

A amiloidose é uma doença de padrão de herança autossômica dominante, e pode ser passada de pai para filho. Também é conhecida como doença de Corino, o médico português que primeiro descreveu a amiloidose.

A amiloidose pode ser dividida em três formas. Estas apesarem de ser parte de uma mesma condição, são distintas pelos sinais e sintomas que apresentam, assim como os órgãos que afetam.

A neuropatia amiloidótica familiar (PAF) é caracterizada por afetar o sistema nervoso periférico e autônomo. Pelas alterações de sistema nervoso autônomo, pode ocorrer desde disfunção erétil, diarreia, constipação, incontinência urinária e hipotensão ortostática (queda de pressão ao levantar).

Na polineuropatia amiloidótica familiar, algumas pessoas também podem apresentar alteração no coração e nos rins. Os olhos também podem ser afetados, com opacidade vítrea, olhos secos, glaucoma (aumento da pressão ocular). Como polineuropatia, pode inclusive apresentar síndrome do túnel do carpo: dormência, formigamento e fraqueza nas mãos e dedos.

Existe também a forma que ocorre acumulo de amiloide nas meninges: a forma meningea. A meninge é o tecido que reveste o cérebro e a medula espinhal. O acumulo de amiloide pode ocasionar derrame e sangramento no cérebro, acúmulo de fluido no cérebro (hidrocefalia).

Já foi descrito nesta forma da amiloidose: dificuldade de coordenação dos movimentos (ataxia), rigidez e fraqueza muscular (paraparesia espástica), convulsões e perda da função intelectual (demência).

Assim como na forma da polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), também podem ocorrer problemas oculares semelhantes aos da forma neuropática.

A forma cardíaca da amiloidose afeta o coração. As pessoas com amiloidose com alteração da função cardíaca podem apresentar desde arritmia (batimento cardíaco anormal), um coração aumentado (cardiomegalia) ou hipertensão ortostática.

O acúmulo progressivo de amiloide no coração pode levar à insuficiência cardíaca progressiva e à morte. Em alguns indivíduos que apresentam a forma cardíaca da amiloidose podem apresentar neuropatia periférica leve.

O ideal é sempre que suspeitar da amiloidose, este passar pela equipe multidisciplinar, incluindo neurologista, cardiologista, oftalmologista, além do médico geneticista.

O papel do médico geneticista no cuidado da polineuropatia amiloidótica familiar (PAF) é solicitar o teste genético específico, bem como a sua interpretação. Também tem como objetivo realizar o aconselhamento genético do indivíduo afetado e de todos os seus familiares.

 

Caio Graco Bruzaca

Author Caio Graco Bruzaca

Médico geneticista pela Unicamp e Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica (SBGM). Atuo em genética de casais (perda gestacional recorrente, infertilidade, casais de primos), medicina fetal, oncogenética e doenças raras.

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